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O que são rácios?
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Os rácios são uma divisão entre dois números, representando conjuntos distintos, que pretendem estabelecer relações entre si. Por exemplo, se pretendermos saber quantas lojas existem nos Olivais por número de habitantes, dividimos o número de habitantes pelo número de lojas e encontramos o rácio que procuramos.
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Para que servem os rácios?
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Utilizam-se os rácios para facilitar a compreensão de relações económico-financeiras. São aplicados na análise de evolução e desempenho das instituições, na avaliação de estratégias, no controle de gestão, na análise de crédito, na estimativa do risco de mercado,na previsão de falências, entre outro fins.
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Quantos rácios são utilizados pelos bancos? E de que tipos?
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Existem vários tipos de rácios, entre rácios de alavancagem, de liquidez e outros, em número variado. Servem para avaliar a solidez de um banco através da análise integrada rácios e outros indicadores. No entanto, os rácios mais importantes são os rácios de capital. Cada instituição está obrigada, pelos sucessivos acordos de Basileia, a ter capital próprio suficiente para suster perdas operacionais e manter os capitais dos depositantes sem perdas ou outros prejuízos.
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E como são constituídos os rácios de capital?
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Pelos Core Tiers. Existem 3 tipos de Tiers, mas o mais importante é o Core Tier one. Os acordos de Basileia definiram os elementos que devem categorizar os capitais próprios das entidades financeiras, tendo em conta a qualidade dos mesmos em caso de absorção das perdas. O Core Tier one corresponde aos elementos de capital de maior qualidade, os quais devem não só absorver as perdas como estar sempre disponíveis.
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Então como é formado o rácio Core Tier one?
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O Core TIER one é que se traduz no rácio entre os capitais próprios core do banco (capitais próprios, reservas, acções preferenciais não resgatáveis, etc) e os activos ponderados pelo risco de crédito. O rácio não deve ser inferior a 8%
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O Core Tier one é composto então por dinheiro, certo?
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Não. O rácio Tier 1, tal como apresentado acima é composto por Ações + Resultados retidos + Outras reservas + Prémios de emissão + Ajustamentos regulamentares , que podem ser rapidamente convertidos em numerário num cenário adverso, num prazo de 30 dias.
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E porque esta petição defende o rácio do core tier one em numerário? Os outros ativos não são suficientemente resilientes?
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Na nossa opinião não. Por isso, e se o rácio tier 1 tem como princípio a rápida transformação em numerário, defendemos que o tier 1 seja composto por numerário, o que tornará a banca muito mais eficiente e resistente a perdas . Também é importante o aumento para 10% do rácio tier 1 em numerário,tal como defende o Banco de Portugal, na atribuição de créditos a particulares e empresas, que só acedem ao crédito se tiverem capitais em numerário no valor de 10% do empréstimo, ou mais.
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Mas qual é o problema das parcelas que compõem o Core Tier one que não são em numerário?
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Em primeiro lugar, o valor das próprias parcelas é subjetivo. Imaginemos as ações da empresa x, por exemplo, que está bem cotada e com um valor muito acima do que é expectável. Imagine-se que, contra todas as previsões, o valor da empresa cai para negativos, fruto , por exemplo, de má gestão. Então estamos perante um ativo variável e que não vai ser convertido em numerário mas sim acrescentar valor negativo. A mesma lógica aplica-se às outras reservas, que não sabemos exatamente quais são, e até aos prémios de emissão. Ora, se objectivo do core tier 1 é converter os ativos em numerário rapidamente, então defendemos que o rácio deve ser constituído em numerário.
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Tudo muito confuso, não percebi nada!
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Estas matérias estão desenhadas para parecerem difíceis mas, na verdade, são muito fáceis. Imagine que vai comprar uma casa. O seu banco pede-lhe recibos de ordenado, fiador e entre 10 a 20 por cento de numerário do valor da casa. No caso de um banco, para estar no mercado de capitais a fazer transações, precisa de ter também um fundo de reserva só que esse fundo é composto por ações, regulamentos, resultados retidos,etc e não apenas em numerário. A pergunta que colocamos é esta: porque é que as estas regras para as particulares não se aplicam ao sistema financeiro?
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Podem dar-me um exemplo?
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O cidadão João e o Banco João, entidades diferentes, decidem comprar uma área para urbanizar numa zona onde se espera construir, em brevemente, um aeroporto . Ambos, dado o valor do terreno, precisam de recorrer a financiamento externo. O cidadão João apresenta, como lhe exigem, uma taxa de esforço adequada baseada no seu rendimento líquido regular, fiador e propriedades. A banca só o financiará em 90% do valor da aquisição pelo que a todas as garantias terá de acrescentar 10% em numerário para perfazer o montante necessário à compra. O banco João apresenta um core tier 1 baseado em ações de empresas supostamente robustas, resultados provisórios positivos e alguns fundos próprios.
Subitamente, a localização para o novo aeroporto muda e o investimento desvaloriza..
O cidadão João adquiriu um terreno cotado com base num projecto que não verá a luz do dia. O cidadão João investiu tudo neste projecto e tem agora que recorrer ao seu Core Tier One para cumprir com os seus compromissos, entre eles, e o mais comum, recurso ao fiador. O Banco João tem no seu Core Tier One um portfólio de ações de empresas supostamente robustas com investimentos como o do cidadão João. Em condições normais, um cliente de um banco como uma empresa que passa de resultados positivos para negativos não são problema para a banca, no entanto, num cenário de crise econômica global, e considerando que o Core Tier One em numerário é quase residual, a banca não terá condições para responder e irá recorrer ao seu fiador normal. Tal como no BES, o seu fiador final, por pressões dos bancos centrais e decisão do Governo, somos todos nós, os contribuintes.
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E o aumento dos rácios é suficiente para fortalecer o sistema bancário?
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Claramente que não. A lógica dos mercados financeiros é complexa e necessitam de várias medidas integradas e simultâneas como a separação da banca comercial da banca de investimento.
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O que são bancos comerciais e como funcionam?
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Bancos comerciais são instituições financeiras que oferecem produtos e investimentos básicos ou conservadores como depósitos, contas correntes, empréstimos comerciais para particulares e empresas. As taxas de juros são supervisionadas e reguladas, na Europa, pelo Banco Central Europeu sendo a taxa mais conhecida a Euribor. Se pretende comprar uma casa, um carro ou um empréstimo para as férias, é a banca comercial que facultará este tipo de serviços.
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O que são bancos de investimento e como funcionam?
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Os bancos de investimento não recebem depósitos. Concedem empréstimos e outras operações através de investimentos, fusões e aquisições. São, na Europa, supervisionados pelo BCE. Os clientes são as grandes empresas, Estados ou outros fundos de investimento.
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Porque defendem que não devem estar juntos?
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As bancas tratam de operações diferentes para diferentes tipos de clientes . Nos Estados Unidos da América desde em 1933 e até 1999, os bancos de investimento e os bancos comerciais estiveram separados (lei Glass- Steagall). Na Europa, a banca comercial e de investimento não estava separada mas bastante regulada até aos anos 80. No entanto, a globalização não trouxe regulamentação adequada e em 2008 a crise da banca tornou-se numa crise económica-financeira mundial. A crise do Lehman Brothers, banco de investimento, despoletou uma crise mundial porque a banca comercial estava demasiada exposta a produtos derivados da banca de investimento e a catástrofe foi mundial.
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Mas isso foi no Estados Unidos, como chegou à Europa?
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Porque o tipo de negócios que a banca de investimento efectua são à escala mundial. No entanto, na Europa, as bancas comerciais e de investimento não estão separadas, apesar de se ter trabalhado em melhor regulamentação desde 2010 e com o aumento do rácio Core Tier One. Assim, muitos clientes e depositantes da banca comercial ficam em risco de perder as suas poupanças quando a especulativa banca de investimento calcula mal os seus negócios. Foi o que aconteceu em Portugal com o Banif e com o BES.
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O caso BES está relacionado com a não separação da banca comercial da de investimento?
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Não na totalidade mas em grande parte sim. Os clientes do BES, depositantes da banca comercial, pequenos acionistas, compraram derivados tóxicos das empresas e grupos do Grupo Espírito Santo. Caso as bancas estivessem separadas, os clientes da banca comercial, não teriam adquirido esses produtos que pertenciam a outro tipo de banca, a banca de investimento. A grande maioria dos lesados da banca , confiando como sempre nos seus gestores de conta, não sabia que tipo de produtos estavam a adquirir e compraram, na banca comercial, produtos tóxicos que pertenciam à banca de investimento.
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A separação das bancas não irá tirar escala à economia?
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Sim, a escala da banca comercial ficará mais pequena com bancos locais para negócios locais e empréstimos locais para compra de casas, terrenos e outros bens. A banca de investimento não terá acesso facilitado aos clientes da banca comercial, não lhes podendo vender nem financiar-se através dos clientes da banca comercial.
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As novas regulamentações e acordos de Basileia não são suficientes para proteger os contribuintes dos problemas dos bancos?
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A resposta, como todos sabemos é não. Não têm sido. É preciso separar as bancas.
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Estas questões são resolvidas a nível nacional ou Europeu?
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Em ambos. Sabemos que a desregulamentação leva invariavelmente a crises de dimensões imprevisíveis pelo que é preciso atuar. Porque fazemos parte a União Europeia e temos por referência o Banco Central Europeu, estamos subordinados a legislação e regulamentação europeia. Ainda assim, é pelos nossos órgãos governativos que temos de começar e para isso é preciso levar esta petição ao Parlamento Português, pressionando os nossos políticos a atuarem em defesa dos cidadãos portugueses, e levando esta preocupação também ao Parlamento Europeu, defendendo assim todos os cidadãos da União Europeia.
A vida dos cidadãos não é um jogo de casino pelo que é urgente separar a banca comercial da banca de investimento assim como forçar que o Core Tier One da banca seja de 10% de capital em numerário para que não seja o contribuinte, mais uma vez, a tapar os buracos criados pelos gestores da banca.
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