
Um sujeito espirra com convicção. O sujeito espirra, mas o espirro não é doença. O espirro é sintoma e compete ao técnico de saúde desvendar qual a doença que provoca o espirro.
Berardo é um espirro social tal como foi José Sócrates, Ricardo Salgado, Zeinal Bava, Durão Barroso, Jorge Coelho, Durão Barroso….
Uns porque foram alegadamente acusados de ilegalidades, outros, acusados, alegadamente, de abusarem da sua posição para atos eticamente reprováveis, mas são todos sintomas.
As Comissões Parlamentares são hoje Júlios Isidros da política. Repare-se que quem lá vai, tem memória curta, orientada por advogados, chegam sem património e saem como entraram. Já os deputados que integram a Comissão Parlamentar correm sérios riscos de sair dali novas pop stars políticas.
Só que estas pop stars políticas não resolvem a doença. São como aqueles médicos que medicam para ocultar o sintoma:
“Tem tosse? Leva daqui um antibiótico muito bom, toma de 12 em 12 horas até ao fim, leva daqui um anti-histamínico que nesta altura do ano, já se sabe, toma depois de jantar para evitar a sonolência durante o dia. Leva aqui um bisolvon para essa expetoração e um panadol para tomar de 8 em 8 horas enquanto durarem os sintomas…”.
Pode ser que a coisa passe por si…
Só que não. Não passa por si porque não interessa que passe, pelo menos até que o Zé Povinho continue a pagar a conta.
As gargalhadas de Berardo são a expressão clara que ele sabe que tem um sistema blindado e nada de especial lhe irá acontecer.
Tal como Berardo, Ricardo Salgado também era um pobre coitado a quem chamavam de “dono disto tudo”. Em ambos os casos, existe um encadeamento de empresas donas de empresas, sem dono definido, em que os bens são de ninguém, as dívidas são de todos nós. A carne vende-se ao próximo tubarão, os ossos vão para o povo.
A doença qual é afinal?
São várias, são doenças oportunistas que se aproveitam de um sistema democrático debilitado pela passividade popular e pelo desinteresse do cidadão, que permite aos eleitos funcionarem em função de quem os pressiona e lhes proporciona um futuro auspicioso, mesmo que há custa de quem os elege.
Atrás desta doença, a doença da desregulação da banca, que permite por exemplo o que aconteceu no BES onde pessoas pensavam que estavam a fazer um investimento seguro e acabaram como “Lesados do BES”.
Doenças como os buracos da legislação que permitem que invariavelmente as provas não sejam provas e os culpados, desde que de colarinho branco, voltam sempre a casa com uma leve reprimenda e uma semana de achincalhamento nas redes sociais.
De resto, tudo é perdoado porque o contribuinte paga.
O pobre, que rouba uma carcaça, terá de enfrentar o Senhor Doutor Juiz e terá uma condenação exemplar. Essas pestes grisalhas e subsídio-dependentes incapazes de pedir um financiamento pornográfico com base em coisa nenhuma. Onde já se viu roubar uma carcaça…
E cá seguimos nós, o povo, a reclamar dos sintomas porque não praticamos medicina preventiva em nós próprios. Tomamos uns placebos em forma de abstenção, uns medicamentos que diminuem a frustração através de reclamações nas redes sociais, e muito contentes ficamos quando uma Comissão Parlamentar diz que vai ocultar um sintoma.
Nós somos os causadores da doença e somos a cura da doença bastando para isso fazer o que nos compete: votar e fiscalizar os que foram eleitos a bem da transparência, a bem de todos nós.
A esta medicina preventiva chamam-lhe de cidadania ativa.